Lc 23.39 – Jo 14.2
Um fato curioso me chamou muito a atenção há alguns anos atrás: Todas as noites, a prefeitura de Nova York alugava duas centenas de quartos em excelentes hotéis de Manhattan para abrigar hóspedes inusitados: sem-teto recolhidos nas vias públicas da cidade. Eram aidéticos que deixavam o desconforto das ruas para passar a noite em suítes individuais com ar-condicionado, televisão a cabo e serviço de acesso rápido à internet, com diárias entre 140 e 400 dólares, todos com instalações e localização de primeira. A generosidade municipal era resultado de uma sentença judicial de 1999, que obrigava a prefeitura a dar abrigo aos sem-teto com Aids no mesmo dia em que eles pedem um lugar para dormir. Como faltavam dormitórios individuais em albergues públicos e vagas em hotéis baratos da cidade, restou apenas a opção de oferecer instalações de luxo. É claro, os hotéis de luxo não gostam de ter hóspedes maltrapilhos e malcheirosos circulando pelos corredores – mas a lei americana proíbe que recusem hóspedes, exceto se não puderem pagar a diária. Como Nova York é disparada a cidade com mais casos de Aids já registrados nos Estados Unidos, houve inúmeros casos como estes.*
Deixando de lado a questão social envolvida nesta notícia excêntrica, podemos observar que grande relação ela tem com a nossa vida, porque cada um de nós também já foi um verdadeiro mendigo espiritual vagueando pelos becos do pecado, até um dia quando o próprio Rei nos quis receber em Sua presença, nos tornando, pela graça, em ricos herdeiros.
As Sagradas Escrituras nos dizem que éramos “como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia...” (Is 64.6), que estávamos mortos em nossos delitos e pecados (Ef 2.1), que tínhamos nos extraviado, éramos inúteis, (Rm 3.12), escravos do pecado (Rm 6.20), e filhos da ira (Ef 2.3), estranhos e inimigos no entendimento, pelas nossas obras malignas (Cl 1.21), e inimigos de Deus (Rm 5.10l; Tg 4.4). Deste modo, estávamos sob a mira da condenação divina (Rm 3.23), sem nenhuma esperança. Éramos mendigos espirituais. Vivíamos na lama do pecado, sem a mínima consciência de nosso estado de imundícia e ainda desejando viver distantes de Deus. Não havia nada em nós que pudesse despertar interesse ou a compaixão de Deus. Éramos arrogantes embora fôssemos infelizes, miseráveis, pobres, cegos e nus (Ap 3.17).
Mas, o fato é que Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou (Ef 2.4), escolheu a cada um de nós antes da fundação do mundo (Ef 1.4), para que, comprados por um alto preço (1Co 6.20), mediante a morte de Seu Filho unigênito (Jo 3.16), fôssemos adotados como seus próprios filhos (1Jo 3.1), de sorte que já não somos mais escravos, mas herdeiros do Criador do Universo (Gl 4.7), e co-herdeiros com Cristo (Rm 8.17), justificados de todas as nossas iniqüidades (Rm 5.1), tendo toda a dívida que existia contra nós cancelada (Cl 2.14), e transformados em templos do próprio Espírito Santo (1Co 6.19). Agora, com uma morada maravilhosa garantida ao lado do Pai (Jo 14.2), nunca mais voltaremos às ruas da iniqüidade para sermos mendigos espirituais, pois o Senhor nos fez assentar definitivamente nos lugares celestiais em Cristo Jesus (Ef 2.6). Glória seja dada a Deus por tamanha misericórdia! Que sempre reconheçamos e louvemos ao Senhor por este extraordinário privilégio.
Rev. Paulo César Nunes dos Santos
(*Notícia extraída da Revista Veja, 25 de Abril de 2001, p. 68)
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